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Epagri discute sucessão rural e mostra como mulheres e jovens estão transformando propriedades familiares
Na oportunidade foram apresentados planos de incentivo e capacitações disponíveis para os jovens rurais catarinenses
25/06/2025 | Assessoria de Comunicação - Epagri
Foto - Reprodução Epagri
A sucessão familiar foi tema de um dos painéis apresentados no Tec Agro 2025. O evento, realizado em Chapecó no dia 10 e 11 de junho, proporcionou um espaço de diálogo sobre um tema fundamental para a continuidade das propriedades rurais de Santa Catarina. Na oportunidade foram apresentados planos de incentivo e capacitações disponíveis para os jovens rurais catarinenses, além de casos de sucesso com os sucessores das propriedades.
A Epagri esteve presente conduzindo três painéis: Tecnologia e Inovação na Sucessão: o futuro das propriedades rurais; Longevidade do negócio familiar e a preservação do legado na agricultura; “Mulheres na sucessão familiar: desafios e oportunidades”.
O extensionista Maykol Ouriques, do escritório da Epagri em Joaçaba, abriu a apresentação ao lado dos jovens Alexandre Mezalira, Giovani Rossetto e Marlon Pichler, produtores de leite que passaram pelo processo de sucessão. Maykol destacou que “muitas vezes, a sucessão familiar é vista como uma passagem de bastão e isso pode trazer alguns problemas. Na Epagri, gostamos de trabalhar a sucessão familiar como um processo, não de passagem de bastão, não de encerramento de ciclo, apesar de que isso infelizmente pode acontecer, mas como um trabalho em equipe, como algo a ser construído”, observa.

Jovens optam pela criação de gado
Alexandre e Giovani, optaram pela criação de gado em confinamento e relatam que o processo de retorno para a propriedade dos pais ocorreu durante a pandemia, com a paralisação das aulas. Os jovens avaliam que os conhecimentos adquiridos na faculdade de agronomia foram fundamentais para reconhecer, analisar e planejar as principais melhorias a serem realizadas. Nesta etapa, a tecnologia e a inovação foram grandes aliadas para conquistar a redução de custos e o aumento da produtividade.
Dentre as melhorias aplicadas em suas respectivas propriedades estão o manejo de dejetos, sistema de ventilação e aspersão, o uso de aerador com bactérias biológicas, aquisição de máquina para maravalha, painéis solares, ordenha robotizada e uso de aplicativos para controle de custos e produção. Estas mudanças, aliadas aos saberes repassados pelos pais, fizeram com que Alexandre, em cinco anos, triplicasse o número de animais na propriedade. Por sua vez, Giovani conquistou em agosto de 2024 o prêmio da Lely Center Lorenzetti, pela maior média de produto por robô.
Marlon e o irmão saíram da propriedade para trabalhar e estudar na cidade. Com isso, os pais ficaram sobrecarregados com as inúmeras atividades que incluíam, além da bovinocultura de leite, a suinocultura de corte. Por esse motivo, em um final de semana, o pai afirmou que iria parar a produção de leite. Como Marlon estava trabalhando em uma empresa de lácteos, pensou que seria um bom momento para retornar para a propriedade dos pais para continuar a atividade que estava em sua família há gerações.
Ele recorda que conversava muito com o pai e com o avô, para juntos, buscarem as melhores alternativas para produzir mais e melhor. Eles optaram pelo modelo de criação de gado preconizado pela Epagri, à base de pasto. Com isso, implementaram a perenização das pastagens e o piqueteamento com água e sombra. O controle de gastos e os dados de produção foram importantes para a tomada de decisões e o levantamento de pontos de melhoria. Seu plano inicial era ficar na propriedade até terminar a faculdade, no entanto, com os investimentos e o retorno conquistado, Marlon começou a escrever outra história de sucessão, ao lado da esposa e da filha.
Mulheres no campo
Outro aspecto da sucessão familiar envolve a questão de gênero. Segundo dados do Censo Rural (IBGE), de 2017, as mulheres permanecem menos no meio rural. Na região Sul, somente 11% das propriedades são geridas por mulheres. Para a extensionista da Epagri em Xanxerê, Dulcinéia Cenci, as mulheres muitas vezes são negligenciadas em papéis socialmente invisibilizados, como a maternidade e os cuidados com a casa, sendo até apartadas de decisões.
Entretanto, ela destaca que as mulheres são fundamentais para o processo de sucessão familiar, não apenas pela capacidade de diálogo, mas porque são guardiãs de tradições e saberes, que são repassados geracionalmente. Segundo ela, isso envolve “o saber cultivar, o saber processar, o cuidado. A sucessão do conhecimento e da cultura, não acontece só na propriedade, mas nas comunidades rurais, nas tradições, nas festas comunitárias, nos eventos”.

Para evidenciar a força e o potencial feminino à frente de estabelecimentos rurais, o Tec Agro trouxe as agricultoras Letícia Scheibel, Miriam Zanella Klein e Elisiane Soster.
Miriam, de Concórdia, cresceu na Linha Tiradentes, mas se mudou para a cidade para cursar administração. No entanto, em 2015, ela e o marido regressaram para o interior, para auxiliar nas atividades desempenhadas pelos sogros, nas áreas de bovinocultura de leite, corte e creche de suínos. Com o envolvimento de Miriam em programas de capacitação, ela percebeu que o mais interessante, naquele momento, era encerrar as atividades leiteiras e expandir a creche de suínos, atividade na qual a família tem conquistado bons resultados. Inspirada pelos exemplos de liderança de sua mãe e de sua sogra, ela seguiu os mesmos passos, atuando por quase cinco anos como líder no núcleo feminino da Copérdia.
Para Letícia Scheibel, de Xaxim, a sucessão familiar aconteceu inesperadamente. A morte repentina do pai a fez repensar os rumos de sua vida. Na época, Letícia vivia em Xanxerê com o marido e estava atuando em sua área de formação, ciências contábeis. Ela afirma que por este motivo, sua sucessão aconteceu por amor, “eu não achei justo com o legado que ele deixou, não podia abandonar tudo porque ele construiu uma história na propriedade”, diz.
Com o tempo, o irmão também retornou para a propriedade e hoje a família Scheibel é conhecida na região, principalmente pelo suco de laranja, vendido na feira da agricultura familiar de Xaxim. Ela explica que eles optaram por manter um modelo de produção artesanal: “não quisemos fazer algo gigantesco, porque o nosso suco carrega uma história. Eu não quero simplesmente produzir suco, eu quero que as pessoas comprem a nossa história”.
Mãe e filhas unidas na produção de leite
Fechando o painel, Elisiane Soster, produtora rural de Belmonte, no Extremo-Oeste de Santa Catarina, contou sua experiência ao lado da mãe e das duas irmãs na propriedade onde se dedicam à criação de gado de leite e ao plantio de grãos. Elisiane destacou que os pais sempre as apoiaram e as incentivaram a participar e conhecer o processo e as atividades realizadas no campo. Por isso, ela salienta que é importante que a sucessão se inicie na infância: “meu pai sempre me incentivou, sempre me ensinou, me levava junto nas negociações. Ele sempre foi um grande incentivador de suas filhas” afirma.
Este apoio fez com que ela se envolvesse desde cedo com as atividades e buscasse qualificação na área. Em 2016, participou do curso de jovens da Epagri, em São Miguel do Oeste, e teve o seu projeto de vida, com foco em piqueteamento, contemplado. Contudo, em razão da estiagem enfrentada em 2018, a família decidiu modificar o modelo de criação de gado, adotando o sistema de confinamento Compost Barn, que visa o bem-estar dos animais.
Com a mudança, as áreas que antes estavam voltadas para as pastagens, agora são utilizadas para o plantio de milho e soja. Elisiane salienta que o sucesso da propriedade se deve ao cuidado com a gestão e a utilização de tecnologias, como melhoramento genético dos animais, sistema de ordenha canalizada e extrator automático.
Os relatos apresentados se conectam com o exposto pela extensionista social da Epagri em Chapecó, Cianarita Caron Figueiró, que conduziu o painel Longevidade do negócio familiar e a preservação do legado na agricultura.Segundo ela,é necessário gerar oportunidades para que os filhos e filhas dos produtores rurais desejem dar continuidade ao legado familiar. Por isso, o planejamento, o diálogo e o incentivo são fundamentais para o êxito na sucessão familiar.
Por: Karin Helena Antunes de Moraes, jornalista bolsista Epagri/Fapesc